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quinta-feira, 2 de abril de 2009

A quinta dos segredos do BPN

É através de um quase invisível desvio para um caminho de terra batida, na estrada municipal que liga o Cartaxo e a aldeia de Casais de Além, que se chega ao terreno de José Oliveira e Costa onde as autoridades encontraram variada documentação escondida que será anexada ao processo de investigação às fraudes no Banco Português de Negócios (BPN). São apenas cem metros de carreiro que levam à propriedade do antigo administrador do BPN, um hectare de vinha e algumas laranjeiras no alto de um monte, invisível para quem passa na estrada, onde os investigadores procuraram o destino de 700 milhões de euros que passaram pelo BPN mas que ninguém sabe onde param. Aqui e na casa de Lisboa de Oliveira e Costa foi encontrada variada “documentação e material de relevo”, como descreveu quinta-feira fonte judicial à comunicação social.
Documentos com os segredos da gestão de Oliveira e Costa no BPN e que estão agora a ser analisados pelos investigadores dos alegados crimes de que é suspeito – burla qualificada, fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, entre outros crimes, num total de sete, como revelou o Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa na sexta-feira, quando a prisão preventiva foi decretada. O terreno, vedado por uma rede em arame, tem apenas uma espécie de arrecadação, onde são guardados pesticidas e alguns instrumentos agrícolas, e um lagar, subterrâneo.
Nestes pequenos espaços, de aparência insuspeita e bucólica, a polícia, no dia em que lançou a operação que acabaria na detenção de Oliveira e Costa, perdeu muitas horas dentro dos seus cinquenta ou sessenta metros quadrados. De acordo com o que o 24horas apurou junto de trabalhadores das quintas mais próximas, a equipa das autoridades –Ministério Público, Brigada Fiscal e Inspecção Tributária – chegou ao terreno pelas oito da manhã de quinta-feira e só saiu de lá ao final da tarde. “Eram dois carros e uma carrinha”, explicou ao 24horas uma testemunha que preferiu não ser identificada. “Pararam o carro na estrada, e depois subiram, primeiro a pé, e depois com os carros”, explicou a mesma fonte. Poucos sabiam que ele tinha ali o terreno De acordo com outra pessoa que assistiu à movimentação policial, e que também não quis ser identificada, as autoridades mandaram chamar o trabalhador agrícola que toma conta do terreno de Oliveira e Costa e obrigaramno a assistir às buscas durante todo o dia, até por volta das 19h00, quando deram o seu trabalho por concluído. A detenção de Oliveira e Costa foi feita na quinta-feira, na sequência de buscas em Aveiro, Cartaxo e Lisboa, em casas e propriedades de Oliveira e Costa ou da sua família. Ao que o 24horas apurou junto de uma outra fonte, Oliveira e Costa visitava o terreno periodicamente, sempre ao sábado. E nos últimos tempos não se tinha deixado ver por lá, afirmou a mesma fonte. Na zona – Casais de Além, Vale da Pinta e Vila Nova de São Pedro, as localidades mais próximas – o 24horas falou com diversas pessoas e todas elas revelaram desconhecer que o antigo administrador do BPN tinha ali o terreno – referindo apenas ter sabido que “a polícia” estivera na área “pela televisão”.