Médicos do Santa Maria já confirmara O medicamento utilizado nos seis doentes que cegaram no Hospital Santa Maria não era Avastin. Esta terá sido a conclusão das análises feitas pelo Infarmed e pelo inquérito da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), já transmitida aos médicos do serviço de oftalmologia, segundo os pacientes ouvidos pelo i. As conclusões estão ainda na posse do Ministério Público e sujeitas a segredo de justiça.
"Tivemos azar e vocês também. A injecção não devia ter sido aquela", disse um médico do serviço de Oftalmologia à paciente Maria Antónia Martins, no domingo de manhã. A conversa foi relatada ao i pela doente de 66 anos, que continua sem ver da vista direita.
A Walter Lago Bom, 47 anos, também foi confirmado que o produto utilizado não era o Avastin. "Eles [os médicos] já sabem que isto que nos foi aplicado era um produto tóxico", contou o paciente que, mesmo já tendo sido operado, continua cego. Walter Lago Bom acredita numa troca de medicamentos e, disse ao i, foi o próprio director do serviço de Oftalmologia que confirmou a troca: "O professor Monteiro Grilo disse-me que o produto administrado era tóxico. Não quis foi dizer o nome do produto, porque o processo ainda está em segredo de justiça."
Foi este, aliás, o argumento do Ministério da Saúde para não confirmar a informação.
O Hospital Santa Maria também recusou ontem comentar a notícia. "Não confirmamos nem desmentimos", disse o responsável pelo gabinete de imprensa, referindo que hoje deverá ser emitido um comunicado sobre este caso. Ainda assim admite que não será "impossível que os médicos já saibam o que aconteceu".
Até à hora do fecho desta edição não foi possível contactar o professor Manuel Monteiro Grilo, mas o Presidente do Conselho de Administração, Adalberto Campos Fernandes, garantiu que "não tem conhecimento oficial de nenhum resultado".
O Avastin é um medicamento inibidor do crescimento de vasos sanguíneos e, como provam as análises ao sangue e humor vítreo dos doentes, houve um aumento deste crescimento. A partir daqui, a conclusão torna-se evidente, como o presidente do Colégio de Oftalmologia, Florindo Esperancinha, já tinha confirmado ao i: "na nossa opinião, não foi utilizado Avastin".
Maria das Dores Monteiro é a paciente com mais sinais de melhoria. "Já consigo distinguir as coisas minimamente, mas só da vista esquerda." A mulher de 53 anos contou como foi a primeira vez que voltou a ver. "O médico pediu-me para abrir os olhos, que estavam muito inchados. Depois, reparou que o estava a seguir, e disse: ?A senhora está a ver-me, não está?? Disse: ?Estou?. Comecei a chorar."
Há sete dias, o Presidente da Associação Portuguesa de Oftalmologia disse que a semana que terminou era decisiva. Neste momento, só Maria das Dores recuperou parte da visão, embora a inflamação de todos tenha reduzido. Ainda assim, os pacientes têm a esperança redobrada.
Os médicos descobriram um caso em que um paciente teve uma forte inflamação na vista depois de injectada com uma substância tóxica e recuperou duas semanas depois. Independentemente das investigações que estão a decorrer - e que Maria José Morgado classificou como de "carácter urgente" - os doentes serão indemnizados e a administração já estuda a melhor maneira de o fazer.
Ainda não existem montantes definidos, mas os valores têm subido e, em Novembro de 2005, o Supremo Tribunal Administrativo condenou o Hospital Distrital de Santarém a pagar 570 mil euros à família de um servente de pedreiro que morreu depois de uma infecção generalizada que não chegou a ser detectada pelos médicos. m aos doentes: o produto usado era "tóxico"