Um relatório ontem divulgado em Belfast conclui que a investigação policial de um dos piores atentados na Irlanda do Norte ocultou provas do possível envolvimento de um padre católico. O caso remonta a Julho de 1972, com a explosão de três carros armadilhados em Claudy, perto de Londonderry. A primeira viatura explodiu em frente a um pub, as duas seguintes ao pé de um hotel e dos correios. Neste triplo atentado morreram nove pessoas, incluindo uma criança, e 30 ficaram feridas. Ninguém foi acusado.
O padre suspeito, James Chesney, viria a falecer quase oito anos mais tarde, vítima de cancro, mas o relatório de Al Hutchinson, o provedor da polícia da Irlanda do Norte, afirma que terá havido uma negociação entre o Estado britânico e a Igreja Católica para ocultar a participação do padre. Da parte de Londres, o então ministro para a Irlanda do Norte, William Whitelaw, e da parte da igreja o cardeal William Conway. Após o acordo, o padre foi enviado para a Irlanda.
O relatório de Hutchinson conclui que embora houvesse "extensas provas" de que o padre Chesney estava envolvido em actividades do Exército Republicano Irlandês (IRA) e era suspeito no atentado de Claudy, os polícias não prosseguiram a investigação, impedidos pela sua hierarquia. O actual ministro britânico para a Irlanda do Norte, Owen Paterson, já disse estar "profundamente desolado" com as conclusões.
Ontem, ao ser conhecida a conclusão do provedor, a igreja irlandesa reagiu pelo cardeal Sean Brady, segundo o qual Chesney voltara à Irlanda do Norte e podia ter sido ali detido. "Concordamos com o provedor da polícia quando diz que o facto [de Chesney não ter sido interrogado] desrespeita a memória daqueles que foram mortos, feridos ou mutilados nos atentados", acrescentou o cardeal.
Além da acção bombista, o padre é suspeito de ter participado em recolha de fundos. Eventos que organizou tinham prémios monetários e, com frequência, eram roubados por membros do IRA. A radicalização de Chesney terá ocorrido na "segunda-feira sangrenta", o massacre de 13 manifestantes pacíficos em Derry, em Janeiro de 1972. Quando foi para a Irlanda, Chesney trabalhou numa paróquia isolada de Donegal até 1980, o ano em que faleceu, aos 46 anos. Questionado por sucessivos bispos, o padre negou sempre a participação no atentado de Claudy.