Só dez anos após o caso do padre Frederico Cunha, acusado da morte de um jovem de quem teria abusado sexualmente, é que D. Teodoro Faria, o então bispo do Funchal, reconheceu publicamente as práticas pedófilas do seu antigo secretário particular.
Um caso que fez história em Portugal. O primeiro julgamento de um padre católico durou três meses e a sentença do Tribunal de Júri, de 10 de Março de 1993, condenou--o a um cúmulo jurídico de 13 anos de prisão pelo crime de homicídio do jovem Luís Miguel (15 anos) e pelo ilícito de homossexualidade com um menor,
O seu afilhado, José Noite, 18 anos, também arguido neste processo, com quem Frederico mantinha relações de intimidade, foi condenado a 15 meses de prisão pela infracção de favorecimento pessoal, ou seja, por ter engendrado um álibi para defender o padrinho, comutada em pena suspensa por dois anos.
O tribunal condenou Frederico a um valor de oito mil euros de indemnização cível que deveria ser paga aos pais de Luís Miguel, mas, até hoje, nunca foi cumprida. "A Igreja deveria ter assumido esse pagamento. Lembro-me que, durante o julgamento, ouvimos quatro testemunhas, homens adultos, que contaram como tinham sido abusados sexualmente pelo padre Frederico. Foi uma história longa que me marcou", disse ao DN Marques de Freitas, procurador da República que liderou a acusação pelo Ministério Público.
Embora com recursos atrás de recursos, e mesmo com incursões do SIS Madeira em investigações paralelas, Frederico Cunha começou por cumprir pena na prisão Vale dos Judeus, mas, aos 47 anos, aproveita uma saída precária de cinco dias e, a 10 de Abril de 1998, foge num carro alugado para Madrid e apanha um avião para o Rio de Janeiro (Brasil).
Não se sabe com que passaporte, já que o dele estava apreendido. Esse é ainda um dos muitos mistérios da fuga nunca esclarecidos. Outro tem a ver se ainda hoje Frederico Cunha exerce o sacerdócio na cidade maravilhosa